Os bens culturais nos 250 anos da cidade de Porto Alegre
Dizem que Porto Alegre é demais, mas poderia ser muito mais. Já foi a capital da gestão democrática e da participação popular. Com tantos outros atributos, a cidade alegre, raras vezes, foi reconhecida pelo acervo de bens culturais que possui. Esse reconhecimento virá a partir da percepção e uso dos espaços com significado pela população porto-alegrense.
Ande, olha para cima, perceba as ruas, as edificações, as estórias e a história. Você vai descobrir que o afiador de facas ainda anda pelas ruas com o seu apito, que há pessoas sentadas na calcada conversando e tomando chimarrão e que muitos outros hábitos e saberes da cidade estão aí, a nossa disposição. Tudo isso faz da nossa cidade, um lugar com significado especial, para os que nascemos ou escolhemos a cidade para viver.
Walter Benjamin costumava utilizar a expressão livro de pedra quando se referia à cronologia das cidades. O livro da história de Porto Alegre é ilustrado com um excelente acervo de materiais, imateriais, saberes, costumes e paisagens. Esse livro de pedra deve ser lido, conhecido e percebido a fim de que os indivíduos conheçam os significados que fazem dessa cidade o nosso lugar de viver.
Arcaica é a cultura da proteção dos bens na forma de museificação, onde os bens são apenas contemplados, mas sem a sensação de pertencimento. E esse reconhecimento do valor do patrimônio histórico e cultural é um dos fatores que fará com que os porto-alegrenses cuidem e sintam orgulho desse lugar com significado.
A remota hipótese de desaparecimento desses bens levará parte da nossa história, parte de nós. Como dizem: quem não possui passado, não sabe para onde dirigir o seu futuro.
A cidade é viva, dinâmica e constitui palco de vivências de cada um de nós. Não apenas a polis, mas a civitas, como espaço para a aquisição da cidadania. O espaço enquanto coletivo é polivalente, local de intercâmbio, de participação, de tolerância e de transgressão. Mas sempre será espaço do público e de domínio do público, concretizando o tempo e a memória, plasmando a identidade de comunidade. Após dois anos de isolamento social, essas questões parecem estar em um bom momento para serem discutidas e materializadas.
Por isso, políticas públicas específicas, executando o comando constitucional do artigo 216 da Constituição Federal, instigadoras, informativas e promotoras do uso dos bens culturais, sincronizados com os avanços urbanísticos e tecnológicos, seria o melhor presente que Porto Alegre poderia ganhar nesse aniversário de 250 anos.
Andrea Teichmann Vizzotto
Esse texto é uma atualização de artigo de minha autoria escrito na REVISTA DIREITO, CULTURA E CIDADANIA, NEC OSÓRIO / FACOS, VOL. 2, N. 1, março de 2012.ISSN 2236-3734